Desde o início de 2020, o coronavírus chegou ao mundo trazendo, além de uma nova doença (COVID-19), notícias inquietantes e, consequentemente, a quarentena que hoje estamos vivendo.
Em meio a essa pandemia e as mudanças drásticas em nossas vidas, precisamos falar sobre um assunto importante: a depressão.
Antes disso, os números da depressão já apresentavam um cenário preocupante no mundo [veja nosso outro informativo sobre depressão aqui]. Agora, com o distanciamento social, o medo e a insegurança, além da nova rotina durante o isolamento, é hora de ficarmos ainda mais atentos aos cuidados e prevenção contra essa doença tão séria e, muitas vezes, silenciosa.
Pensando nisso, fizemos um informativo para falar sobre a depressão em tempos de pandemia e tentar ajudar você nesse momento tão difícil. Vamos lá?
O que é depressão
A depressão é uma doença psiquiátrica cada vez mais comum no mundo. Pessoas com depressão se sentem tristes, desanimadas e têm dificuldade em ver prazer na vida na maior parte do tempo.
Elas sofrem diversos impactos em sua vida, tanto em aspectos pessoais como profissionais. Além disso, sofrem sintomas físicos, psíquicos e cognitivos que vamos abordar mais abaixo.
A descrição da depressão parece até um pouco com o estado em que estamos vivendo hoje, não é mesmo? Mas não confunda depressão com tristeza e desânimo. É normal se sentir triste e desanimado vez ou outra e nesse momento difícil com a pandemia do coronavírus, é ainda mais comum.
Porém, quando o grau de sofrimento, de tristeza e de desânimo começa a se sobressair aos outros sentimentos, perdurando por mais tempo e impedindo que a pessoa viva sua vida, é hora de pedir ajuda. Durante a depressão, a pessoa pode enfrentar dificuldades até mesmo para tomar banho, preparar refeições ou realizar atividades simples do dia a dia.
Para aprendermos um pouco mais sobre esse assunto e como cuidar da saúde mental durante esse momento, vamos falar sobre suas causas, sintomas e tratamentos, além de discutir alguns sentimentos que estamos tendo em meio à pandemia.
Depressão em tempos de pandemia
O isolamento social, a perda da rotina habitual e o medo do coronavírus tomaram conta da sociedade como um todo. São muitas as notícias informando que a ansiedade, o estresse e os sintomas de depressão aumentaram entre as pessoas.
Pesquisadores da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e da Universidade de Yale, nos EUA, fizeram um estudo com 1.460 pessoas de 23 estados brasileiros em quarentena. A pesquisa foi feita em dois períodos: entre 20 e 25 de março (quase no início da quarentena) e entre 15 e 20 de abril (após cerca de um mês de quarentena).
Olha só alguns números que eles observaram:
- 90% foi o aumento de casos de depressão observado de um período para o outro.
- 6,9% para 9,7% foi o aumento da prevalência de pessoas com estresse agudo.
- 8,7% para 14,9% foi o aumento de casos de crise aguda de ansiedade.
Ainda no estudo, os pesquisadores identificaram quais os grupos de pessoas mais vulneráveis a desenvolver depressão:
- Pessoas que vivem com idosos durante a quarentena.
- Portadores de doenças que as tornam grupo de risco para a COVID-19.
- Trabalhadores que não podem ficar em confinamento.
A pesquisa também observou que mulheres e pessoas de menor escolaridade estão mais propensos a desenvolver depressão, pois são grupos mais pressionados e em situação de fragilidade emocional.
Pandemia, estresse e ansiedade
Estresse, preocupação contínua, pensamentos negativos. É assim que muitas pessoas caracterizam os dias que têm passado desde que a pandemia do coronavírus começou. Ela trouxe uma situação diferente de tudo que já vivemos nas últimas décadas. O medo, a insegurança e a sensação de que notícias ruins chegam a todo momento já fazem parte do dia a dia da maioria das pessoas.
Mas o que realmente está acontecendo com nosso corpo para nos sentirmos assim?
Quando ficamos estressados, nosso corpo sofre uma cadeia de reações:
1 - Primeiro, nossos olhos e ouvidos enviam informações à amígdala cerebelosa, uma região do cérebro que processa as emoções.
2 - A amígdala cerebelosa identifica se o que você está vendo ou ouvindo é estressante e, em caso positivo, envia um sinal para o centro de comando do cérebro, o hipotálamo.
3 - Por sua vez, o hipotálamo informa o resto do corpo (por meio do sistema nervoso autônomo) sobre o que está acontecendo, isto é, que há alguma ameaça por aí.
4 - Quem primeiro recebe essa mensagem são as glândulas adrenais (ou suprarrenais), que disparam o hormônio adrenalina na corrente sanguínea.
5 - A adrenalina aumenta o ritmo das batidas do coração e da sua respiração, porque o corpo entende que os músculos precisam de mais sangue para levar mais oxigênio para o cérebro. Isso tudo é o organismo se preparando para lidar com a ameaça que está por vir e é algo que acontece em segundos.
Em situações normais, nosso corpo é comandado pelo córtex pré-frontal, uma parte do cérebro responsável pelo raciocínio, tomada de decisões lógicas e planejamento. Mas, em situações de estresse, a amígdala cerebelosa toma as rédeas e começa a comandar tudo. Por isso, não conseguimos raciocinar direito e pensar claramente sobre o que está acontecendo, apenas reagimos: Estamos no modo conhecido como correr ou lutar (ou no inglês, fight or flight).
Essa rápida resposta do organismo a ameaças é muito útil para nós desde os tempos das cavernas. Ela nos protegeu por muito tempo em encontros com animais perigosos e, nos dias de hoje ainda nos protege quando andamos numa rua escura ou atravessamos a rua e vemos um carro vindo em nossa direção. Nessas situações, nosso estado de alerta se liga, nosso coração e a respiração acelera, porque de fato precisamos de mais sangue e mais oxigênio para o corpo se mexer e reagir à ameaça.
O problema é que notícias ruins, como a do aumento do número de mortes por COVID-19 ou a de que algum conhecido está com a doença também, são encaradas pelo cérebro como uma ameaça. A reação em cadeia ocorre da mesma forma, mesmo que a notícia seja no jornal e estejamos sentados no sofá assistindo tv. E, com a pandemia, as notícias, a insegurança e o medo constante são gatilhos para ficarmos em alerta o tempo todo.
Não fomos feitos para viver sob essa cadeia de reações por muito tempo, quem dirá semanas ou meses. Com o tempo, ela nos leva ao esgotamento total, podendo causar problemas de sono, de ansiedade e nervosismo e depressão. Viver sob essa cadeia de reações por muito tempo pode levar até mesmo à redução da atividade do hipocampo, área do cérebro responsável por aprendermos e memorizarmos coisas, e isso é algo muito observado, por exemplo, em pessoas com depressão.
Mas nesse cenário de pandemia significa que todo mundo desanimado está com depressão? Não, não basta estar desanimado. Vamos esclarecer mais um pouquinho a questão da depressão.
Fatores de risco e causas da depressão
É difícil falar em causas para a depressão, pois são muitos fatores que podem levar ao desenvolvimento da doença. Vamos citar algumas coisas que podem influenciar para o quadro:
- Fatores genéticos e fisiológicos (familiares de primeiro grau de pessoas com depressão possuem mais risco de desenvolver a doença);
- Experiências adversas ou traumas na infância;
- Fatores ambientais como eventos estressantes na vida. Por exemplo, a pandemia em que estamos vivendo, as mudanças drásticas de rotina e o isolamento social;
- Personalidade (como a pessoa lida com o mundo);
- Nível econômico (pessoas de menor poder aquisitivo estão mais expostas a eventos adversos e têm menos acesso à saúde);
- Mulheres têm mais chances de desenvolver depressão;
- Período pós-parto;
- Desequilíbrio de algumas substâncias no cérebro;
- Doenças crônicas ou incapacitantes;
- Presença de outras doenças psiquiátricas.
Existem também diversas teorias que explicam a depressão, como o desequilíbrio químico na relação entre neurotransmissores e neurorreceptores no nosso cérebro. Porém, nenhuma dessas teorias é conclusiva.
Sintomas da depressão
Existem alguns sintomas que podem dar indícios de que a pessoa está com depressão. Eles podem ser físicos, psíquicos ou cognitivos. Vamos ver alguns deles?
Sintomas físicos
- Fadiga (cansaço, redução da energia);
- Diminuição das funções motoras;
- Insônia ou hipersonia (dormir pouco ou em excesso);
- Diminuição ou aumento excessivo do apetite;
- Perda ou ganho de peso excessivo;
- Palpitação (taquicardia);
- Dores no tórax;
- Dores de cabeça;
- Dores musculares;
- Dores na lombar.
Sintomas psíquicos
- Tristeza e humor deprimido;
- Diminuição da autoestima e autoconfiança;
- Pensamentos negativos;
- Sentimentos de culpa;
- Perda de interesse no que antes lhe dava prazer;
- Isolamento social;
- Pensamentos de ruína e fracasso;
- Desinteresse pela vida;
- Pensamentos de morte e ideação suicida.
Sintomas cognitivos
- Dificuldade de concentração;
- Diminuição do raciocínio lógico;
- Queda de rendimento e produtividade;
- Prejuízo cognitivo (por isso, não é recomendado tomar decisões importantes durante episódios de depressão).
Além disso, existem níveis de depressão. Ou seja, uma pessoa pode apresentar um quadro depressivo diferente de outra dependendo do número de sintomas que apresenta. Olha só algumas características de cada nível:
- Depressão Leve: 2 sintomas fundamentais e 2 sintomas menores;
- Depressão Moderada: 2 fundamentais e 3 ou 4 menores;
- Depressão Grave: 2 fundamentais e mais de 4 menores.
Diagnóstico da depressão: como é feito?
O diagnóstico deve ser feito por um psicólogo ou psiquiatra. O profissional faz um exame clínico, conversa com o paciente e, em alguns casos, pode pedir exames para descartar outras doenças ou alterações (como as hormonais) que podem afetar a saúde mental do paciente.
Essa avaliação é muito importante, por isso, o primeiro passo é procurar ajuda médica e, se possível, contar com o apoio de familiares e amigos. Não sinta vergonha de buscar ajuda, nem ceda aos preconceitos e estigmas dessa doença tão séria.
Tratamentos para a depressão
O tratamento pode envolver psicoterapia com psicólogos ou psicanalistas e também medicamentos prescritos por um psiquiatra. No caso da terapia, o profissional vai ajudar a pessoa a se conhecer melhor e a lidar com o problema e os fatores que estão levando à depressão. Já a medicação psiquiátrica irá ajudar a controlar os sintomas durante o tratamento.
Conseguir cuidados médicos pode ser motivo de dificuldade neste momento de quarentena, porém a atividade desses profissionais é considerada essencial e eles estão autorizados a continuar trabalhando.
Além disso, a tecnologia tem ajudado bastante. Muitos médicos e psicoterapeutas já aderiram à telemedicina e a consultas online. Essa é uma boa opção para quem está no grupo de risco da COVID-19 ou mesmo para não causar ainda mais ansiedade pelo medo de se contaminar com o coronavírus. É importante manter as consultas e terapia em dia, para não pausar o tratamento mesmo durante a pandemia.
Dicas de como cuidar da sua mente durante a pandemia
Além do tratamento médico e psicoterapêutico, existem alguns bons hábitos que podem ajudar a pessoa com depressão. Vamos a alguns deles:
- Manter uma alimentação saudável;
- Praticar atividades físicas;
- Manter uma boa rotina de sono;
- Criar uma rotina durante a quarentena;
- Manter contato por telefone ou redes sociais com amigos e familiares para evitar o sentimento de solidão;
- Reparar nas coisas que dão prazer e lhe fazem se sentir bem;
- Ler menos notícias: tente se manter informado somente sobre o necessário, para evitar a ansiedade com a avalanche de informações sobre a COVID-19;
- Buscar atividades de relaxamento e distração como meditação, brincar com o pet, escrever, desenhar, bordar, etc.
Outra dica, caso queira ouvir um especialista falando melhor sobre saúde mental em tempos de pandemia, ouça esse podcast aqui.
Fitoterapia para ajudar na depressão
Uma boa notícia é que existem plantas que podem ajudar durante o tratamento contra a depressão, amenizando alguns sintomas e desconfortos. A fitoterapia pode inclusive ajudar pessoas que não estão com depressão, mas que, por conta da pandemia, estão sentindo sintomas depressivos. Olha só algumas plantas com ações calmantes e sedativas:
Cúrcuma (ver produto): aumenta a atividade da serotonina, noradrenalina e dopamina no cérebro, substâncias importantes contra sintomas de depressão.
Há também vitaminas e outras substâncias que podem ajudar, como:
Em todo o caso, não deixe de procurar ajuda médica se estiver com os sintomas acima. E, se estiver usando medicamentos psiquiátricos, converse com um profissional antes de usar fitoterápicos ou quaisquer outras substâncias para evitar problemas de interação medicamentosa.
Esperamos que esse informativo tenha te ajudado a entender melhor a depressão e a se sentir mais tranquilo. Fique em casa se puder, cuide-se e fique bem!
E, se precisar, conte com a equipe da Oficina de Ervas. Você pode falar com um dos nossos fitoterapeutas clicando aqui!
Referências
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3566245
https://www.bbc.com/portuguese/geral-52157980
https://www.youtube.com/watch?v=q8rrewfLDuU
https://saude.abril.com.br/podcast/a-saude-mental-durante-e-apos-a-pandemia-de-coronavirus-podcast/
https://www.einstein.br/noticias/entrevistas/dr-alfredo-maluf-neto
https://www.einstein.br/noticias/noticia/ansiedade-depressao-podem-ser-totalmente-incapacitantes
https://www.einstein.br/guia-doencas-sintomas/info/#161
https://www.youtube.com/watch?v=bJJceUHvoqc